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Sinais Vitais nº 74 Setembro 2007

 

 

Editorial 

Os cuidados de saúde entraram na era da “accountability”. Hoje os profissionais de saúde têm que prestar contas sobre o que fazem, sobre as razões de fazerem o que fazem, sobre os resultados que as populações podem obter com o que fazem e no final quanto é que tudo isto custa. O conceito de resultados em saúde, não sendo um conceito novo, está a emergir com muita acuidade. Em períodos de pouco desafogo económico, as profissões têm de mostrar a sua efectividade, i.e. mostrar quais são os ganhos que as pessoas ou a sociedade no seu conjunto podem obter pelo seu contributo. Este facto é visível na quantidade de estudos que, cada vez mais, surgem sobre efectividade e sobr e resultados dos cuidados. Mitchell (2001) citado por Pringle & Doran (2003), numa pesquisa na Medline, entre 1978 e 1989, utilizando a palavra outcome como chave, refere não ter encontrado nenhuma r eferência, mas quando fez o mesmo exer cício para os anos de 1997 a 2000 foram listadas mais de 700 citações.

Nas décadas que precederam os anos 90 a enfermagem parecia não ter muito para oferecer, em termos de fortes evidências científicas, quando era solicitada a demonstrar que fazia a difer ença nos cuidados de saúde. No sentido de superar essa dificuldade, a última década tem gerado uma maior quantidade

de estudos cujo objectivo é o de identificar , claramente os resultados que podem ser obtidos pela sua inter venção, demonstrando assim que a enfermagem faz de facto a diferença nas pessoas, nos seus processos de vida, nas transições que se vão operando e também nas suas experiências de doença. Na nossa opinião não está garantido que, havendo evidência que demonstre o efeito directo dos cuidados de enfermagem na forma como os doentes recuperam a sua saúde, ou sobre a forma como as pessoas em geral obtêm ganhos em saúde, ou sobre o bem-estar financeiro do próprio sistema de saúde, isso tenha repercussões na forma como a profissão é valorizada, respeitada e ouvida na determinação das politicas para a saúde, contudo a evidência produzida pode melhorar a qualidade dos cuidados a prestar e evitar a er osão da profissão enquanto tal.

Á medida que se forem desenvolvendo bases de dados que reflictam os cuidados de enfermagem, especificamente os diagnósticos de enfermagem, as intervenções, ficamos mais capazes de avaliar e identificar os ganhos ou modificações na pessoa que resultam dessas intervenções e, nesse sentido, identificar quais as intervenções ou áreas de actuação que produzem melhores resultados e quais os resultados obtidos que são mais sensíveis aos cuidados de enfermagem.

Este é um desafio que os enfermeiros têm que abraçar.

Fernando Amaral