Índice do artigo

  

 

EDITORIAL
A oportunidade da comunidade neste início de século

É um dado adquirido que no domínio dos cuidados de saúde as necessidades da população estão em plena mutação tornando premente a necessidade de adaptar os serviços de saúde às necessidades específicas dos clientes, colocando-se cada vez mais a tónica dos cuidados de saúde na promoção da saúde, na prevenção da doença e acidentes, nos cuidados de (re)adaptação e suporte. É, também verdade, e ainda bem que assim é, que os clientes estão mais informados quanto às suas necessidades em matéria de saúde e desejam cada vez mais participar activamente nas decisões sobre os cuidados.
As mudanças referidas têm criado novas possibilidades aos cuidados de enfermagem, levando a que no mundo inteiro, e também em Portugal, se assista a uma evolução dos cuidados de enfermagem para responder às necessidades específicas das pessoas. Evolução que se fica também a dever aos progressos importantes que se têm feito no domínio do conhecimento e do desenvolvimento da formação na área das ciências de enfermagem.
Cada vez mais os enfermeiros têm assumido o desenvolvimento de novas e diversificadas formas de intervenção com vista a respeitar mais os interesses e necessidades da comunidade, tendendo para a excelência em matéria de cuidados de enfermagem centrados no cliente e na sua família e não de forma isolada. Hoje incluímos a família nas dimensões de informante, de cuidador e sistémica, como aponta Wright & Leahey (1994:2), “ incluir de forma deliberada da família no planeamento e prestação de cuidados ao cliente; desenvolver a capacidade de levar em consideração as necessidades da família como um todo, e não apenas as necessidades do indivíduo; e de reconhecer a importância das crises interpessoais, do seu impacto na saúde da família e a dar ênfase no estilo colaborativo, que respeita as forças da família e lhes dá apoio para encontrar as suas próprias soluções para os problemas identificados.
A utilização destas orientações são evidenciadas pelos enfermeiros nas diferentes situações de cuidados diferenciados, na intervenção comunitária, na educação para a saúde, na interacção intencional e deliberada decorrente da relação terapêutica diária. Denotam entretanto, mais notoriedade a nível dos cuidados à comunidade no âmbito dos cuidados de saúde primários.
Ciente que a reflexão sobre a situação da saúde e dos cuidados de saúde em Portugal, que se está a desenvolver no actual Ministério da Saúde situa-se a um nível sério, é esperado que os enfermeiros sejam identificados como um recurso de saúde para as pessoas e famílias uma vez que, seguramente, serão um valor acrescentado para os ganhos em saúde de que a nossa comunidade tanto necessita. Neste enquadramento faz todo o sentido a existência
do enfermeiro de família para trabalhar com as famílias ajudando-as a identificar problemas e a mobilizar os seus próprios recursos.
Hoje sabemos que a realidade é complexa exigindo o entendimento simultâneo de muitas relações, não só no interior da pessoa que está doente mas com os outros, com os familiares, com as comunidades em que vivem e com o ambiente.
Os cuidados centrados na família e a assunção do enfermeiro de família por parte da governação, são a principal oportunidade da nossa comunidade neste início de século.

Carlos Margato