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ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA NO RECÉM-NASCIDO

AUTORA: MARIA FILOMENA DA SILVA CÂNDIDO TEIXEIRA 

PALAVRAS-CHAVE: Alimentação entérica; amamentação; prematuridade; leite materno; leite adaptado; suplementos.

RESUMO
O suporte nutricional neonatal deve ser iniciado precocemente de modo a permitir ao recém-nascido pré-termo o desenvolvimento e crescimento semelhante ao intra-uterino e ao recém-nascido termo o seu desenvolvimento normal.

INTRODUÇÃO
Um suporte nutricional adequado permite aumentar a resistência a doenças e melhorar a resposta à medicação ou à terapia cirúrgica. Déficits nutricionais prolongados podem provocar atrasos no desenvolvimento cerebral irreversíveis.
Sempre que a situação clinica do recém-nascido o permita deve-se utilizar a alimentação entérica e não a parentérica. Isto porque esta é mais segura, mais fisiológica, facilita uma normal homeostasia hormonal e enzimática, estimula o desenvolvimento da função gastrointestinal prevenindo a atrofia do lúmen intestinal, evita certos efeitos secundários da alimentação parentérica como por exemplo a colestase, o aumento dos níveis séricos de bilirrubina e de fosfatasse alcalina e as infecções e tem uma melhor relação custo-eficácia. Não necessita também de tanto controlo laboratorial e é mais rápida de obter. A alimentação entérica produz um aumento de peso mais rápido diminuindo assim o tempo de internamento hospitalar.

CONSIDERAÇÕES GERAIS
Em termos calóricos preconiza-se que para os recém-nascidos pré-termo sejam administradas 105 a 115 kcal/kg/dia e para os termo 120 kcal/kg/dia, isto para um ganho de peso durante o primeiro ano de vida de 15 grs/dia e 15 a 30 grs/dia respectivamente. As proteínas requeridas são 2,25 a 4gr/kg/dia. A gordura é 4 a 6gr/kg/dia e não deve exceder 55% do total calórico. A relação da distribuição calórica deve ser semelhante à do leite materno (6% do total das calorias deve vir das proteínas, 42% dos carbohidratos e 52% das gorduras).
A introdução da alimentação deve ser começada com menor volume e menor concentração de forma a evitar-se a intolerância alimentar e outros distúrbios como por exemplo a enterocolite necrozante. Deve-se ir aumentando gradualmente tanto em volume como em concentração. Nos recém-nascidos pré-termo em que haja necessidade de restrição hídrica o aporte deve ser dado para permitir o aumento de peso, aumentando a concentração do leite. Nos recém-nascidos com atraso de crescimento intra-uterino o calculo deve ser feito para o percentil 50 para um bebé daquela idade gestacional e não de acordo com o seu peso no momento pois o seu sistema gastrointestinal está desenvolvido de acordo com a sua idade gestacional e por isso permite maiores volumes e concentrações.
O ganho de peso, o aumento no comprimento e no perímetro cefálico nos recém-nascidos pré-termo deve ser semelhante à curva intra-uterina e 40 semanas após o nascimento deve ser semelhante aos recém-nascidos termo.
Se a alimentação entérica não for iniciada poderão ocorrer atrofia do sistema gastrointestinal que o deixa muito mais susceptível a infecções, à enterecolite necrozante e a distúrbios hormonais. Mínimas quantidades não aumentam o risco de enterecolite necrozante e podem começar a ser administradas 48 a 72h após o nascimento mesmo em recém nascidos de peso inferior a 1500grs.
Existe uma perda de peso fisiológica do recém- nascido, perda essa dependente da idade gestacional e do peso à nascença que é de mais ou menos 1 a 3%/dia. O suporte nutricional adequado deve permitir ao recém-nascido que essa perda não seja nem inferior a 10% nem superior a 20%. Se a perda for inferior a 10%, significa que está a haver um aporte excessivo com as possíveis consequências de uma persistência do canal arterial ou de uma displasia bronco-pulmonar. Se a perda for superior a 20%, pode significar um aporte insuficiente. Até ao máximo de 18 dias o peso à nascença deve estar recuperado. Quanto menor for o peso à nascença, maior é a perda fisiológica e mais longo o tempo de recuperação do peso ao nascer.
No caso de recém-nascido pré-termo o leite materno é insuficiente em termos proteicos, de fósforo e de cálcio pelo que devem ser adicionados fortificantes. Os recém-nascidos pré-termo necessitam maior aporte destes nutrientes do que os termo. O leite materno está adaptado para os termos e a evolução do leite materno é sempre de acordo com as necessidades do bebé termo conforme este vai crescendo.
Formulas para prematuros estão adequadas de acordo com a imaturidade do tracto gastrointestinal. São normalmente de concentração calórica elevada para permitir uma adequada nutrição num baixo volume devido à habitual restrição hídrica que estes bebés necessitam. Contém predominantemente proteínas, carbohidratos de fácil digestão, incluindo combinações de lactose e de polímeros de glicose e gorduras que combinam triglicéridos de cadeia média com triglicéridos de cadeia longa. Os Pré-termos conseguem absorver melhor os triglicéridos de cadeia média que os de cadeia longa porque a quantidade de bílis que conseguem segregar é inferior à necessária para a absorção dos triglicéridos de cadeia longa. As formulas são normalmente isosmolares ( aproximadamente 300mosm/kg de água ), de modo a reduzir a diarreia osmótica e a prevenir a enterecolite necrozante. Normalmente contém extra-vitaminas, electrólitos e minerais de modo a satisfazer as necessidades de crescimento dos bebés pré-termo.
Em termos de necessidades de suplementos para crianças pré-termo, só devem ser adicionados quando estas estão a tolerar toda a alimentação. Devem ser espaçados durante todo o dia e não unicamente numa refeição para evitar a hiperosmolaridade e a intolerância alimentar.

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