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Sinais Vitais nº 67
Julho 2006

 




EDITORIAL
Finalmente chegaram as férias. Após um ano de trabalho intenso chega agora o merecido descanso, o retemperar, mas também o recarregar baterias para mais um ano que se adivinha intenso. Intenso de reformas que nos exigirá estar alerta para que as mudanças que todos entendemos como necessárias e úteis não se venham a revelar inoportunas e desvalorizadoras das conquistas que nos últimos 30 anos a revolução de Abril nos possibilitou.
Ao nível da saúde parece ser significativa a vontade reformista deste governo querendo tornar o sistema mais eficiente, um sistema com o qual as populações se sintam satisfeitas, não pela simples noção de que o sistema existe, mas antes pelos resultados que podem obter dum sistema bem organizado, onde os recursos são alocados para a consecução de ganhos reais em acessibilidade aos cuidados, em amenidades e sobretudo em saúde.
O que significa que os ganhos em eficiência se têm que colocar na maximização de resultados com os recursos que estão alocados à saúde e não numa perspectiva de redução de gastos que pode redundar numa perda de eficácia do sistema.
Os governos, quando pressionados pela economia, em ciclos de pouco crescimento ou de recessão, como o que vivemos actualmente, tendem a afrontar e a colocar em causa as políticas de cariz mais social, nas quais a saúde se inclui, invocando para o Estado um papel mais regulador do que interveniente efectivo nas políticas de financiamento como forma de redistribuir a riqueza produzida. Estas acções tendem assim a colocar do lado das famílias a responsabilidade financeira para fazer face a necessidades em saúde e de protecção social em geral. Esta passagem de uma forma de organização do estado, que recebe sobre a forma de impostos o valor acrescentado da riqueza e a redistribui sob a forma de políticas sociais, para um estado onde o principio é exclusivamente a protecção da riqueza como forma de desenvolvimento esquecendo que o capital dos capitais é o capital humano, pode redundar num fracasso e tornar-nos num país ainda menos desenvolvido e mais gastador do que o que tem sido. Veja-se o exemplo dos Estado Unidos que é o país onde  a despesa em saúde em proporção do PIB é maior, mas em que mais de vinte milhões de pessoas não têm acesso a cuidados de saúde.
Todos estes aspectos de mudança política têm naturalmente reflexos ao nível das profissões que operam em áreas onde a pessoa é o centro e o foco primordial de atenção.
Por isso para além de desejar boas férias a todos os nossos leitores aqui fica o alerta para a necessidade de estarmos atentos.

 

Boas férias.

António Amaral
 


 


ENTREVISTA PROFESSORA MARIA DA CONCEIÇÃO SARAIVA SILVA COSTA BENTO

A Professora Maria da Conceição Bento ganhou recentemente as eleições para o Conselho Directivo da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Apresenta-se como mulher, mãe, enfermeira e professora de enfermagem. Quando estava a frequentar o curso de Enfermagem geral, que terminou em 1985, diz que descobriu que a Enfermagem fazia sentido, não a Enfermagem centrada na doença, modelo que então dominava as práticas, mas a Enfermagem que era apresentada pelas diferentes Concepções e Modelos de Enfermagem. Na sua perspectiva “valia a pena investir na construção dessa Enfermagem porque isso melhoraria a saúde das pessoas”. Considera-se uma apaixonada pela Enfermagem, opinião partilhada por colegas e muitos dos seus alunos. A revista Sinais vitais quis ouvir esta Professora que se candidatou a ser Presidente do Conselho Directivo do primeiro exemplo de fusão de escolas do ensino superior.


 


 

REFLEXÃO: ENFERMAGEM, ARTE E CIÊNCIA

Autor 
Fernando Manuel Monteiro de Carvalho (Licenciado em Enfermagem, Hospital de São Teotónio de Viseu)

Resumo 
A Enfermagem é um caso paradigmático de integração harmoniosa dos saberes provenientes quer das ciências naturais, quer das ciências humanas. O seu objecto de estudo é o Homem encarado de uma forma holística.As ciências da natureza, essencialmente explicativas uma vez que visam o estabelecimento de leis gerais / universais que expliquem os fenómenos. Ora, se o fenómeno é uma imagem, facilmente compreendemos que a realidade que se nos afigura é uma representação incompleta e inacabada.
Segundo a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), por fenómeno de enfermagem entende-se o aspecto da saúde com relevância para a prática de enfermagem.
Hoje é necessário “humanizar” as ciências exactas e “naturalizar” as ciências sociais porque só assim é que se pode atingir níveis mais elevados de racionalidade e holismo. A chave que resolve o problema é a união e não a divisão.

 

 




SAÚDE, DOENÇA E EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE: UMA PRESPECTIVA

 

Autor 
Isabel Maria Batista de Araújo (Enf. especialista em Enfermagem Médico Cirúrgica, Mestre em Educação: Especialidade em Educação para a Saúde, Escola Superior de Saúde de Vale do Ave, de Vila Nova de Famalicão)

Resumo
Sucessivas reuniões internacionais apelam à implementação de actividades de educação para a saúde, apoiando-se na evolução do conceito de saúde, como um recurso, um estado positivo de bem-estar individual e comunitário. Este trabalho teve como principal finalidade validar um instrumento de colheita de dados composto por questões abertas e fechadas, reportando-se este artigo apenas à análise das questões abertas. Com as mesmas pretendíamos identificar concepções de saúde/doença e educação para a saúde expressas por estudantes do ensino superior que frequentavam cursos da área da saúde. Dadas as características em que esta análise se desenvolveu, insere-se no âmbito da investigação de natureza descritiva enquadrada no paradigma qualitativo. A nossa amostra foi composta por 61 estudantes da licenciatura em Enfermagem que frequentavam o 2º ano de formação. Recorremos à análise de conteúdo para tratamento da informação. Dos discursos dos nossos participantes emerge uma tendência clara da definição de saúde preconizada pela OMS (1946) como “um estado de bem-estar físico mental e social, e não apenas ausência de doença ou enfermidade” (cit in González, 1998:6). Saúde foi peremptoriamente relacionado com o bem-estar e a doença como um desequilíbrio, ambos com repercussões em diferentes dimensões. A Educação para a Saúde deve esclarecer o indivíduo ou população, com a finalidade de promover a saúde e evitar determinadas doenças.

Palavras-chave
Saúde; Doença; Educação para a Saúde

 




CRIOTERAPIA EM ORTOTRAUMATOLOGIA

 

Autor
Fernando Manuel Monteiro de Carvalho (Enfermeiro Licenciado, Ortopedia do Hospital São Teotónio, Viseu)

Resumo
Em ortotraumatologia, a crioterapia é um importante instrumento de trabalho pela sua capacidade de induzir efeitos analgésicos, antiinflamatórios e prevenir/diminuir o edema. O Enfermeiro deve ter em conta que a aplicação directa e prolongada do frio pode provocar queimaduras de diferentes graus de gravidade pelo que se exige a tomada das precauções necessárias à sua prevenção (principalmente em utentes com a sensibilidade alterada).

PALAVRAS-CHAVE
Crioterapia; vasoconstrição; hiperémia reactiva; efeito analgésico.

 




ENFERMAGEM, DISCIPLINA DO CONHECIMENTO

Autor

José Amendoeira (Enfermeiro especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Mestre em Sociologia e Doutor em Sociologia da Educação. Professor Coordenador ESE – Instituto Politécnico de Santarém. Investigador no CEOS/FCSH – Universidade Nova de Lisboa)

Resumo
Discutir a enfermagem como disciplina do conhecimento é na actualidade um imperativo em várias dimensões, pois falar de interdisciplinaridade implica clarificar de que disciplina falamos quando nos referimos à disciplina de enfermagem, na constelação das disciplinas da saúde, mobilizando também a dimensão da interprofissionalidade emergente pela complexidade em saúde.
Farei uma abordagem a partir do que se considera na actualidade o conhecimento humano e de como este se organiza em disciplinas, de carácter académico e profissional, permitindo desta forma ser comunicado sob a forma de saberes com utilidade na vida quotidiana. Considero essencial desenvolver a reflexão em torno de três dimensões que relevo como essenciais ao conhecimento: a fonte, a difusão e o uso, a partir do conceito de cuidar, aproximando assim o conceito de saber ao de competência, como essencial para a afirmação da interdisciplinaridade e da interprofissionalidade.

 





COMUNICAR COM DOENTES VENTILADOS: UMA FUNÇÃO DE ENFERMAGEM

Autor
Tiago Gomes Sá (Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia) Liliana Francisca Melo Machado (Unidade de Cuidados Intensivos Cirurgico Cardiotoráxica)

Resumo
Comunicar faz parte do dia a dia do ser humano. Os enfermeiros têm uma profissão em que a comunicação interpessoal é fundamental no desenrolar do seu trabalho, começando pela comunicação com a equipe e com os utilizadores (Ellis, 1995). Face à relação próxima que se estabelece durante a prestação de cuidados de enfermagem e à diversidade de situação com que se depara, o enfermeiro tem de recorrer à utilização de diferentes formas de comunicação entre as quais, a comunicação não verbal pode assumir uma particular importância.


 

 


 

VARICELA E GRAVIDEZ

Autor
Ana Maria Magalhães Morais (Nível 1, Bacharelato em Enfermagem, Serviço Obstetrícia do Hospital da S.ª da Oliveira – Guimarães)

Resumo
Muitas mulheres em idade reprodutiva encontram-se imunizadas para o vírus varicela Zoster, sendo baixa a incidência da infecção pelo vírus varicela Zoster na gravidez.
No entanto, quando ocorre pode acarretar graves consequências par o feto/ recém – nascido. A gravidade destas consequências depende da idade gestacional em que ocorre a infecção materna. Em caso de suspeita de contacto da grávida com o vírus deve determinar-se o mais brevemente possível o seu estado imunitário.

Palavras chave
Infecção fetal, síndroma da varicela congénita, zona neonatal, varicela neonatal, prevenção.


 

 


 

COMO LIDAM AS CRIANÇAS COM A MORTE/LUTO

Autor
Anabela Maria Sá Machado (Licenciatura em enfermagem, Enf. Graduada, Hospital S. João de Deus)

Resumo
Recentemente, quando descobri que uma colega da minha idade lhe tinha sido diagnosticado uma neoplasia com mau prognóstico, não pude de deixar pensar nos seus filhos, crianças de 3 e 5 anos de idade e das várias situações de privação pelas quais iriam necessariamente passar, a mais importante, a do “colo”, ou melhor a da simples presença da mãe, e talvez pela minha proximidade afectiva, de imediato deparei-me com várias reflexões/perguntas que me assaltaram a minha tranquilidade, a saber:
Como lidarão estas crianças, com o sofrimento agudo da doença da mãe?
Que representações têm da morte?
Como lidarão com a morte da mãe?
Como irão experiênciar o luto?
Quando começa o luto destas crianças?
E os enfermeiros, como lidam com a morte?
Como lidamos, com o luto de uma criança nas nossas unidades de saúde?
Por vezes é necessário parar um pouco, para reflectirmos no nosso do dia a dia, e nossa prática sobre o significado e os seus objectivos. Os mesmos devem pautar-se pelo elevado respeito pela autonomia, e dignidade daqueles que cuidamos, tanto na vida, como no “ajudar” a morrer…

Palavras Chave
A criança, a morte e o luto; Os enfermeiros a morte/luto de uma criança.     

 

 




EDUCAÇÃO PARA A ALTA À PESSOA COM OSTOMIA

Autor
Lurdes Maria Vieira dos Santos Macedo (Bacharelato em Enfermagem, Cirurgia mulheres/unidade de cuidados intermédios – Hospital Sousa Martins)

Resumo
A educação do doente Ostomizado é um processo difícil continuo, que deve conter regras gerais, de fácil compreensão e ser adaptável ás necessidades particulares de cada doente.
A actuação dos enfermeiros junto dos doentes com ostomia, baseia-se em promover o apoio necessário a uma correcta adaptação do doente à doença. Esta adaptação deve visar não só um reforço no nível de auto-estima, como a nível emocional e informativo.

Palavras chave
Ostomia, educação, complicações.

 



 

PAPEL DO ENFERMEIRO NA REABILITAÇÃO PSIQUIÁTRICA

Autor

Lurdes Maria Vieira dos Santos Macedo (Bacharelato em Enfermagem, Cirurgia mulheres/unidade de cuidados intermédios – Hospital Sousa Martins)

Resumo
O enfermeiro surge na reabilitação psiquiátrica como um elemento de uma equipa transdisciplinar, onde cada técnico contribui com os seus conhecimentos teóricos e com as informações que tem do utente psiquiátrico, para se atingir um objectivo comum: a reinserção na sociedade.

Palavras Chave
Utente psiquiátrico; Intervenção do enfermeiro; Reabilitação; Comunidade.
 

 


 

 DOENÇA DE PARKINSON: SABERES TEÓRICOS E PRÁTICOS

Autores
Idalina A. Gomes Silva Santos (Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, Hospital de Magalhães Lemos)
Paula Manuela Rodrigues Pereira (Enfermeira Graduada, Hospital Geral de Sto António)

Resumo
A doença de Parkinson foi descrita em 1817, por James Parkinson (físico inglês) como “Paralisia Agitans”.
Sabe-se hoje que é uma alteração neurológica, gradualmente progressiva que afecta o Sistema Nervoso Central (SNC), mais concretamente os centros cerebrais responsáveis pelo controle e regulação do movimento. Quando estes são afectados, por destruição das células dopaminérgicas que se encontram na substância negra, também designada por “nigra”, provocam o descontrole e a desrregulação do movimento. A dopamina é o neurotransmissor que coordena a funcionalidade dos músculos e o movimento do corpo. A sua ausência implica uma grave deficiência nos centros de coordenação e no controle do tónus muscular. O doente torna-se incapacitado pela rigidez e tremores e torna-se incapaz de cuidar de si.


 




 

HISTÓRIAS DE VIDA: UMA MODALIDADE DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA EM IDOSOS

Autores

Carlos Alberto da Cruz Sequeira (Professor Adjunto na ESE de S. João, Doutorando em Ciências de Enfermagem, Mestre em Saúde Pública e Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica)

Albina Rosa Rodrigues Ferreira (Enfermeira Graduada do Hospital S. João, Licenciada em Enfermagem)

Amadeu Matos Gonçalves (Professor Adjunto na ESE de Viseu, Mestre em Ciências Sociais e Especialista em Enfermagem de Saúde mental e Psiquiátrica)

José António Pinho (Enfermeiro Chefe no Hospital de Santo António, S.A., Mestre em Saúde Pública e Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica)

Maria Manuela Silveira S. Gonçalves (Enfermeira Graduada do Hospital de S. Teotónio S. A.)



ResumoAs histórias de vida favorecem o desenvolvimento de uma autonomização e de uma distanciação no modo de nos pensarmos e pensarmos o outro como seres sócio-culturais. Em termos metodológicos o nosso trabalho baseou-se num paradigma construtivista, tendo como instrumento operativo a investigação – acção. Com este trabalho de campo enraizado nas histórias de vida pretendeu-se proporcionar um espaço de liberdade interior e contribuir para a elaboração de projectos.
As sessões permitiram a partilha de acontecimentos e vivências que alguns idosos nunca tinham efectuado. Todos os idosos, no final manifestaram interesse em participar em projectos idênticos.

Palavras Chave 
Histórias de Vida; Idosos; Intervenções de Enfermagem.