Índice do artigo

 

ENTREVISTA
Linhas Orientadoras para a Investigação em Enfermagem

Nota da Redacção
No Simpósio de Enfermagem “Investigação em Enfermagem: os contextos e os resultados” a Revista Sinais Vitais levou a cabo um Painel cujo o tema “Linhas orientadoras para Investigação em Enfermagem: Como porquê e para quê?
Convidou para intervir neste Painel a Enfermeira Professora Doutora Marta Lima Basto, Coordenadora da Unidade de Investigação em Enfermagem e Desenvolvimento das quatro Escolas de Enfermagem de Lisboa, a Enfermeira Idalina Gomes, em representação da Ordem dos Enfermeiros e o Enfermeiro Professor Doutor Manuel Rodrigues, coordenador da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: domínio da enfermagem, das Escolas de Enfermagem de Coimbra.
A Moderar o Painel, em representação da Revista Sinais Vitais, esteve o Enfermeiro Paulo Pina Queirós, Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto.
Optou-se por convidar os colegas coordenadores das duas unidades de investigação já sujeitas a avaliação externa pela Fundação para Ciência e Tecnologia e uma a Ordem dos Enfermeiros. Outras unidades de Escolas de Enfermagem se poderiam ter convidado, mas por questões de abrangência entendemos mais útil esta opção, dada a experiência que podiam partilhar.
Por limitações de espaço vamos apenas apresentar as comunicações dos intervenientes, optando por não colocar as questões e as respostas decorrentes do debate a seguir.

Linhas orientadoras para Investigação em Enfermagem: Como porquê e para quê?

Professor Doutor Manuel Rodrigues, coordenador da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: domínio da enfermagem, das Escolas de Enfermagem de Coimbra.

A todos muito boa tarde, saúdo a organização deste evento e todos os que ainda aqui estão. Escolhi para a minha apresentação o tema: “Novos horizontes para a enfermagem cientifica”. Eu, costumo seguir a minha orientação nesta lógica de educação e investigação e penso que a evolução em educação, nos últimos tempos e a formação dos enfermeiros nos últimos tempos tem contribuído para que hoje possamos falar em investigação e situarmo-nos numa nova linguagem
1 - Os desafios de formação: (num percurso de 20 anos os enfermeiros de habilitações académicas de nível básico e secundário, para uma expansão significativa de habilitações ao nível de licenciatura, mestrado e doutoramento).
Nesta tarefa os enfermeiros superaram barreiras socio-culturais, confrontaram-se com velhos estereótipos, trabalharam por vezes em condições de desigualdade face a outros profissionais.
Uma enorme capacidade de superação caracterizada pela preserverança nos objectivos e grande resiliência desenvolvida ao longo da sua actividade profissional, tem permitido aos enfermeiros tornear as dificuldades e seguir em frente.
Nestes últimos anos a conjuntura caracterizada pela anunciada falta de enfermeiros e por tanto uma previsível facilidade de emprego as escolas de enfermagem têm sido procuradas e assistimos hoje a uma espécie de corrida ao ouro através da criação desesperada de cursos justificada pela desvalorização e falta de enquadramento empresarial de Cursos que proliferaram nas Universidades. Esta mais valia actual da enfermagem tem que ser rapidamente protegida e acautelada para que o ensino de enfermagem perca a dignidade e a especificidade que durante muitos anos teve a marca da diferença e da qualidade.
2 – Da Formação para os desafios da investigação: O boom de formação dos enfermeiros, graduada e pós graduada gerou entre os enfermeiros uma nova tendência que podemos designar como a “emergência da consciência e cultura científica”.
A cultura científica implica dos sujeitos uma atitude atenta crítica e construtiva da realidade experiencial. Implica estar atento às propostas das comunidades científicas e ao processo de produção de ciência e de cultura.
A cultura científica implica valorizar o conhecimento científico enquanto necessidade humana e perceber que a investigação e educação se interpenetram no percurso prudente daquele que procura uma ideia esclarecida dos factos e de si. O conceito de “cultura científica” emerge do desenvolvimento da “sociedade da informação e do conhecimento” e impõe-se como um compromisso (Rodrigues, 2002). O conhecimento científico é uma necessidade humana e a investigação e educação interpenetram-se no percurso prudente daquele que procura uma ideia esclarecida dos factos e de si .
3 – As Unidades de Investigação e a Enfermagem Científica
Nestes últimos anos emergiu o conceito de UNIDADE DE INVESTIGAÇÂO que assenta na existência de uma equipa cujos elementos desenvolvem a sua actividade de IeD, num determinado domínio científico ou tecnológico ou em domínios de intervenção multidisciplinar, partilhando um ou mais propósitos comuns. De acordo com o Regulamento do Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de IeD (2002), cada Unidade deve possuir a massa crítica necessária para alcançar os seus objectivos, o que, em princípio, requer que seja integrada, no mínimo por três doutorados com currículos científicos de mérito, sendo um deles o coordenador científico, o qual assegura a liderança científica e é responsável pelas actividades de gestão. Uma Unidade pode organizar-se por linhas de investigação em função do tipo de projectos que a integram e devem ser acolhidas por Instituições de Ensino Superior  que demonstrem competência para disponibilizar instalações, infra estruturas e recursos humanos.
Unidades de Investigação têm como finalidade a produção científica, em ramos específicos do saber. No entanto, essa produção científica que emerge da Unidades de Investigação, deve ser obrigatoriamente avaliada por uma comissão de peritos, principalmente estrangeiros, com base em critérios internacionalmente aceites. a acreditação de Institutos, Laboratórios e Unidades de Investigação é crucial para o princípio da equidade.
De acordo com o DL nº 205/2002 que aprova a Lei Orgânica do Ministério da Ciência e do Ensino Superior, indica como uma das atribuições deste ministério: “ Promover a difusão da informação científica e técnica e a cultura científica dos cidadãos” artº 2 alínea g). Por sua vez cabe especificamente à Fundação para a Ciência e Tecnologia (artº 20, 2) dar continuidade a esse esforço de promover a cultura científica e tecnológica, apoiar e avaliar as Unidades de Investigação.
Importa perceber que sem apoio e financiamento não há investigação científica viável e útil. Comparando os dados relativos à percentagem do PIB dirigido há investigação, verificamos que existe diferença entre a Europa (1,98) em relação ao Japão (2,98) ou EUA (2,80). Ao nível da Europa podemos verificar uma nítida desigualdade entre Portugal (0,48), Grécia (0,67) e Espanha (0,96) em contraste com a Suécia (4,27), Finlândia (3,49) e Alemanha (2,49).
Está o grupo profissional de enfermeiros motivado para aproveitar os recursos de investigação disponíveis, e afirmar o seu direito a uma partilha por direito de parte desses recursos?
Graças ao esforço que alguns enfermeiros fizeram nestes últimos anos de colocar a sua fasquia de habilitação académica ao nível de doutoramento e pós doutoramento, é possível neste momento, apresentar um corpo de massa crítica capaz de ser reconhecida e respeitada pela comunidade científica e almejar ao necessário financiamento.
Esta realidade que podemos considerar histórica para a enfermagem, deu os primeiros passos ao serem reconhecidas pelo Painel de Peritos Internacional de duas Unidades de Investigação Científica em Portugal (Coimbra e Lisboa), o que pode abrir caminho a uma nova cultura e ao desenvolvimento de núcleos de investigadores enfermeiros desenvolvendo linhas de investigação e integrando projectos mais vastos de natureza interdisciplinar.
A acreditação das Unidades de Investigação obedece a critérios de elevada exigência que tenderão a aumentar de dificuldade e a ser cada vez mais selectivos nos próximos tempos.
Definiram-se assim um conjunto de critérios rigorosos e fortemente selectivos a que os enfermeiros investigadores estão desafiados a almejar:
1º - Produtividade científica e tecnológica de qualidade: Publicações em revistas estrangeiras com factor de impacto, especialmente ao nível do (“Science Citation Índex).
A necessidade de organizar a produção científica dos enfermeiros é uma necessidade urgente, criar uma base regular de partilha entre a massa crítica de investigadores em enfermagem, seguindo um modelo de organização que impulsione a mudança e a inovação e o progresso da enfermagem científica. Justificar perante o Estado que a produção científica de enfermagem merece ser financiada, pela sua relevância na produção de conhecimentos útil para ganhos em saúde. Aparecer publicamente a defender posições firmes, cientificamente fundamentadas e a aceitar o desafio de não fugir ao debate e de comentar o trabalho de outros. Desenvolver projectos de investigação que precisem e explicitem a linguagem científica de enfermagem e focalizem a complexidade de cuidar. Definir uma estratégia clara de divulgação da produção científica dos enfermeiros. Selecção dum leque de revistas com referee de alto impacto e estimular os enfermeiros para esses canais de pesquisa e de leitura. Definir um “perfil leitor” “sistematização de procuras” “necessidades de aplicação”. Evitar o efeito de confinação perfeitamente incompatível com a Universalidade do saber científico. Balançar-se para um desafio de criação duma revista Nacioal de Enfermagem Científica capaz de desafiar os indicadores dos melhores índices, como seja o Science citation Index. Na senda do American Journal of Nursin, Journal of Advancing Nursing, Nursing research entre muitos outros).. Aplicação e transferibilidade dos produtos produzidos
2º - Produção científica em co-autoria, indicador da cooperação internacional. Os enfermeiros não podem descurar uma visão de organização em rede e cooperação interintitucional e Internacional.
3º - Sentido de unidade e organização. As Unidades de investigação deverão levar a sério na sua organização, tal como recomenda o painel de peritos, a concepção lógica do “Desenho de Redes de Problemas de Investigação”, evitando fragmentação.
4º - Capacidade de organização de acções de formação Pós-Graduada.
5º - Orientação de teses de mestrado e doutoramento.
6º - Participação em projectos de IeD e grau de aplicação de produtos desenvolvidos.
7º - Possuir meios para desenvolver IeD (instalações, biblioteca, equipamentos, apoio técnico e administrativo.
A Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Domínio de Enfermagem, acreditada este ano, pretende orientar-se  para o desenvolvimento da Enfermagem Científica, produzindo conhecimento científico útil.  Esta Unidade de UI&D, é acolhida pela Escola de Enfermagem Dr Ângelo da Fonseca e pela Escola Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto em parceria, e pretende ser um Centro de Referência na Investigação Científica em Ciências da Saúde numa perspectiva interdisciplinar e especificamente no desenvolvimento da Enfermagem Científica.

Pode visitar a página da Unidade em www.eseaf.pt.

 

Marta Lima Basto , Enfª. Doutora. Coordenadora da Unidade de Investigação & Desenvolvimento em Enfermagem (Lisboa)

Os meus agradecimentos pela oportunidade de poder estar aqui a falar sobre a Unidade de Investigação & Desenvolvimento em Enfermagem, que é recente, foi criada em Novembro de 2001. Vou concentrar-me nalguns aspectos mais práticos. Quero dizer que esta unidade de investigação foi criada pelas 4 Escolas Superiores de Enfermagem, públicas, de Lisboa, no âmbito do programa de fusão destas escolas numa escola só - a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.Gostaria de realçar a mais valia de uma unidade de investigação: passar da investigação em enfermagem exclusivamente académica para uma investigação para o desenvolvimento, quero dizer com isto, para uma investigação que não é feita prioritariamente para obter um título académico, com limitações de orientações que recebemos, de tempo, etc., para uma investigação que possa ser feita sobre os problemas que nos preocupam na prática dos cuidados e portanto que tenham ou que possam ter efeitos mais imediatos no desenvolvimento do conhecimento utilizado pelos enfermeiros no seu dia-a-dia.O que, do meu ponto de vista, caracteriza uma unidade de investigação é essencialmente o apoio dos pares, o que faz a unidade é a possibilidade de eu poder contar com outros colegas que estão interessados em desenvolver investigação ou no mesmo tema ou noutros temas a fins, mas que estão preocupados em desenvolver o conhecimento em enfermagem. Portanto, este sentido de que entro como investigador para uma unidade e portanto posso esperar e devo esperar, o apoio doutros colegas, mas também eles devem esperar o meu apoio, nas formas mais variadas, penso que é o sentido principal da unidade de investigação.Um dos aspectos que me parece importante em qualquer unidade e que também tentamos que caracterize a nossa é não ver qualquer contradição entre tentar desenvolver o conhecimento de enfermagem -  conhecimento utilizado e criado pelos enfermeiros - e a colaboração com  investigadores doutras áreas afins. Parece-nos, antes pelo contrário, uma mais valia. O que quero dizer é que a formação de equipas multidisciplinares é muito importante e é o que temos tentado também desenvolver. A admissão na nossa unidade, como noutras, é voluntária obviamente e aquilo que nós esperamos é que grupos de enfermeiros ou grupos de enfermeiros com outros profissionais apresentem projectos de investigação que têm de se enquadrar nas linhas de investigação da Unidade que, aliás, são suficientemente latas para acolher muitos  e diversos interesses. Mas tudo começa pela decisão de um grupo de enfermeiros de apresentar um projecto de investigação que, naturalmente, tem de ser avaliado pelo concelho científico. O e-mail da Unidade é .Quero dizer-vos que nos candidatámos, tal como a unidade de investigação de Coimbra ao co-financiamento da Fundação para Ciência e Tecnologia. É uma experiência que vale a pena ter, ser submetido à avaliação de um painel de peritos, neste caso quase todos estrangeiros, é um estímulo para podermos desenvolver o nosso trabalho com mais segurança.Gostaria de vos falar das linhas de investigação da nossa Unidade que correspondem aos programas. Temos um programa que se intitula: “Cuidar em enfermagem ao longo da vida”, que está subdividido, desde há pouco tempo, no Subprograma 1 – “Saberes e práticas”, que é coordenado por mim e o subprograma 2 – “Experiência vivida”, coordenado pela Professora, Enfermeira Maria Antónia Rebelo Botelho. O programa “Saúde e desenvolvimento” é coordenado pelo Professor Daniel Sampaio, psiquiatra. Para terem uma ideia dos projectos que estão em curso, vou dar alguns exemplos. Em 2003, desenvolveram-se vários projectos, no subprograma  “Saberes e práticas”: “Avaliação da qualidade de vida do idoso em centros de dia e lares”, “Administração terapêutica por via oral, modificação de fórmulas farmacêuticas sólidas”(uma questão que há que analisar, como administrar medicamentos que têm fórmulas diferentes), “Educação do diabético na mudança de comportamentos, que estratégias”, “Carta de alta, transferência”, “Os registos, retrato da prática profissional” e em 2004 iniciaram-se trabalhos essencialmente à volta das práticas de enfermagem  em contexto hospitalar. Exemplos dos trabalhos que estão agrupados no Subprograma 2 e que correspondem a outra linha de investigação: “A vivência do sofrimento no doente traumatizado vertebro-medular, em situação de paraplegia”, “A experiência de homens cuidadores de mulheres que sofrem de demência”, “Estigma e discriminação da pessoa infectada com VIH, SIDA”. E para iniciar em 2004, um projecto para o qual ainda estamos a admitir investigadores para formar a equipa, “A prática dos cuidados de enfermagem olhada à luz de uma reflexão ética. Uma experiência vivida”, portanto pode-se constituir uma equipa com pessoas de várias áreas, com experiências vividas por enfermeiros e utentes. No Programa Saúde e Desenvolvimento: os “Discursos sobre a doença mental no Estado-Novo”, “Stress, coping  e qualidade de vida da pessoa com diabetes mellitus”, “Como vivem as crianças e os adolescentes o internamento em psiquiatria”.Julgo que é fácil calcular as dificuldades porque passam, de uma forma geral, os enfermeiros que querem fazer investigação, mas de uma forma especial aqueles que decidem fazer investigação nos seus serviços, portanto sem dispensas especiais do seu trabalho. É através da iniciativa dos próprios enfermeiros da apresentação de projectos de qualidade, da garantia de estar bem apoiados por outros colegas em unidades de investigação que a pouco e pouco se vai conseguindo facilidades no horário, financiamentos, etc. Como certamente os colegas que apresentaram aqui trabalhos já sentiram na pele, é esse o processo a seguir.Gostaria de dar alguns exemplos das actividades que estamos já a desenvolver. Como já expliquei, uma das nossas intenções é alargar as equipas a investigadores de outras áreas disciplinares e temos algumas, mas gostaríamos de as alargar ainda mais. Continuamos os contactos internacionais, temos feitos vários mas com pouco efeito prático, no sentido que o Manuel Rodrigues já disse, ou seja, fazer trabalhos em conjunto e isso ainda não aconteceu. Continuar os contactos com as unidades de investigação em enfermagem existentes em Portugal e esses já estão a ter regularidade e portanto vamos concretizar brevemente aquilo que podemos fazer em conjunto, como por exemplo criar uma base de dados da literatura cinzenta de enfermagem, reforçando aquilo que já foi dito pelo Manuel Rodrigues, promover conferências que facilitem o contacto com a investigação qualitativa. Já foi feito um encontro organizado por esta Unidade com o Walter Hesbeen e este ano vamos ter um com a Maria Grypdonck em Junho. Queremos realizar uma missão a uma universidade, neste caso à Faculdade de Enfermagem da Universidade de Turku, na Finlândia. Isto é uma intenção que temos no programa da acção e não sei se vai ser possível. Colóquios para apresentação de trabalhos realizados no âmbito de programas da Unidade, divulgação da Unidade no meio académico, debatem sobre a essência da disciplina de enfermagem. Isto no plano de acção para 2004. Aumentar o acervo documental da biblioteca da Unidade, apesar de utilizarmos todos os centros de documentação existentes. Colaboração no doutoramento em enfermagem em colaboração com a Universidade de Lisboa, visto que já foi criado o doutoramento em enfermagem e já foi assinado um acordo entre as quatro Escolas públicas de Lisboa com a Universidade de Lisboa e esta unidade sente a responsabilidade de dar a sua colaboração também.Aquilo que realmente tem tido mais impacto, até agora, neste pouco tempo de vida que temos, são os seminários de investigação para enfermeiros doutorandos. Tem uma frequência mensal, tem regras, as pessoas apresentam os seus projectos, são criticados pelos colegas e pelos orientadores quando já têm orientadores, e também há convidados a propósito dos temas que estão a preocupar os próprios seminaristas (o nome está correcto!). Os seminários temáticos, já mencionaram aquele que esperamos realizar este ano. Os seminários metodológicos com os investigadores, orientados pelos coordenadores de cada programa. Temos realizado mas vamos intensificar ainda mais o apoio bibliográfico a outros investigadores. Temos respondido a várias solicitações de enfermeiros, quando nos pedem nós tentamos fazer esta ligação, mas como já foi dito, um dos nossos problemas é a falta de conhecimento sobre o que os outros andam a investigar, mesmo dentro do nosso país, que é pequeno. A orientação de dissertações de mestrado e teses de doutoramento é outro tipo de actividade, visto que um dos interesses é fomentar a investigação em todas as circunstâncias, tanto pode ser em acções de formação em determinados serviços de saúde como pode ser através da formação a nível de mestrado ou a nível de doutoramento.A revista “Pensar Enfermagem”, que era uma revista da Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende, foi modificada, temos um novo conselho editorial e portanto já há um ano que a revista está integrada nesta Unidade. O Contacto é um boletim informativo simples entre os investigadores mas também o enviamos às outras unidades de investigação e para outras pessoas ligadas a esta unidade.Incentivamos, pelas razões já ditas, a publicação em revistas nacionais e estrangeiras. Há a intenção, este ano, de um investigador publicar um livro. Incentivamos idas a congressos internacionais, que são essenciais não só para apresentar trabalho e ser sujeito a críticas como para contactar com colegas dentro das suas áreas de interesse.Para terem uma ideia do funcionamento destas unidades, que têm as suas dificuldades, para 2004 precisamos muito de ter uma secretária, porque é muito difícil funcionar sem apoio administrativo ou muito pouco, da instituição de acolhimento que neste caso é a Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende. E naturalmente a criação de um sítio para Unidade.

 

Enfermeira Idalina Gomes, em representação da Ordem dos Enfermeiros

Como membros da comissão nacional da formação em enfermagem da Ordem dos Enfermeiros no âmbito das nossas reflexões, no que concerne a investigação em enfermagem, cinco questões fundamentais se nos colocam:

Qual a evolução da investigação em enfermagem Portugal?
Qual o objecto da investigação que se faz em Portugal, no âmbito da enfermagem?
Em que contexto?
Onde se encontram divulgados os estudos realizados?
Para que outras pessoas a eles possam ter acesso e para que possam ser  submetidos à discussão crítica no seio da comunidade científica condição fundamental para a objectividade, credibilidade da investigação e para o desenvolvimento da profissão. A este propósito Popper (1992, p.78) refere que a objectividade não é uma questão individual, mas uma questão social da sua crítica recíproca.
A investigação produzida esta a ser utilizada na prática de cuidados e tem reflexos na qualidade da prestação de cuidados?
Quem são os vários actores intervenientes no contexto da investigação em enfermagem e qual o seu papel?
Face a estas interrogações, que urgem responder, pareceu-nos importante a Ordem analisa-las e compreende-las para em conjunto delinearmos e implementarmos estratégias no sentido de lhes dar respostas.
Qual a evolução da investigação em enfermagem, nomeadamente em Portugal?
Antes de entramos na evolução da investigação em enfermagem em Portugal, para uma melhor compreensão do caminho que ela tomou, convém situa-la a nível internacional. Como referem Basto e Soares(1999, p33) há autores que atribuem a Nigthingale (18?) o mérito de ter sido a primeira enfermeira a fazer investigação, ao ter colhido dados estatísticos para demonstrar a grande mortalidade dos soldados britânicos internados em hospitais de campanha, em comparação como os internados em hospitais civis e os ter utilizado para influenciar o poder político a fazer reformas nas condições de higiene e salubridade dos mesmos o que reduziu drasticamente a mortalidade dos soldados.
Porém é nos Estados Unidos da América que a investigação em enfermagem mais se desenvolve e influência a profissão em todos os continentes (Lima Basto e Soares (1999, p33). Como referem essas autoras, fundamentando-se em Gortner e Nham (1977) foi decisivo para o incremento da investigação em enfermagem o facto de ter sido criado em 1899 o Teachers College da Universidade de Columbia, Nova York, um curso em Hospital Economics que tinha como finalidade preparar enfermeiras para ensinar em escolas de enfermagem e em 1907 ter sido criado, na mesma Universidade, o Departamento de Enfermagem e Saúde, que leccionava cursos de pedagogia e saúde pública. Estando esses cursos integrados nas Universidades e para que a enfermagem fosse considerada como uma disciplina, obrigava a que os mesmos fossem aceites em todos os programas básicos e de graduação. Assim, as enfermeiras do Teachers College investem na obtenção de graus académicos- bacharel, mestrado, e doutoramento. Este facto influência decisivamente o curso da investigação para problemas relacionados com a formação em enfermagem. Os estudos das enfermeiras em áreas que não a da enfermagem também influenciou significativamente a opção da abordagem metodológica (quantitativa, qualitativa).
O início da investigação, tendo como foco a prática data da década de 20 e primeiros anos da década de 30, por se ter começado a perceber a necessidade de avaliar os procedimentos de enfermagem. Mas apesar do que foi referido, só em 1995 e 1965 se começa a notar de uma forma mais sistemática a viragem no sentido de dirigir a investigação para a prática dos cuidados de enfermagem como uma condição para ultrapassarem o seu estatuto de submissão ao estudo de outras disciplinas. Assim incrementam-se estudos sobre relação enfermeiro/doente, qualidade de cuidados, grupos de risco (Lima Basto e Soares (1999).
No que se refere a Europa só nos anos 60 é que a preocupação com a investigação emerge, questões políticas e económicas estão na base destas diferenças (Lima Basto e Soares (1999).
Nos anos 70 a investigação começa a ser vista como uma responsabilidade colectiva da profissão e das associações ao invés de ser um trabalho de iniciativa individual em toda a Europa são tomadas medidas que visam desenvolver a investigação em enfermagem.
Na década de 80 com a integração da enfermagem nos estabelecimentos do ensino Superior aumenta o número de enfermeiras preparadas para fazer investigação e percebesse cada vez mais que a investigação em enfermagem tem que desenvolver-se de uma forma mais integrada numa cultura e prioridades dos sistemas de cuidados de saúde na Europa.
Assim em 1996, um comité de peritos do Conselho da Europa formula um modelo para o desenvolvimento da investigação em enfermagem que faz sair um relatório com recomendações e estratégias para o desenvolvimento da investigação em enfermagem na Europa (Lima Basto e Soares (1999).
Feito este breve enquadramento contextual estamos em condições de compreender a evolução da investigação em Portugal. Basto (1998), refere que nos anos 50 se iniciaram alguns trabalhos académicos do tipo descritivo ou estudo de caso que são considerados inovadores para uma época em que o curso de enfermagem se centrava essencialmente nas patologias e nas técnicas.
Em 1967 inicia-se o ensino da investigação em enfermagem na Escola de ensino e administração em enfermagem. A década de 70 caracterizou-se pelo contacto das enfermeiras com metodologias de investigação utilizadas nas ciências sociais e pelo início da realização de trabalhos de investigação no âmbito de cursos de especialização em enfermagem (Curso de Especialização em Enfermagem de Saúde Pública) (Lima Basto e Soares(1999, p36). Em 1982 a primeira enfermeira Portuguesa adquiri o grau doutor. Em 1992 iniciou-se o primeiro mestrado em ciências de enfermagem.
Quanto ao método utilizado na investigação a evolução tem sido no sentido de passar de estudos exclusivamente descritivos, para estudos comparativos, experimentais, ground theory e estudos filosóficos.
Qual o objecto da investigação que se faz em Portugal, no âmbito da enfermagem?
À semelhança do que aconteceu no panorama internacional, a evolução do conteúdo da investigação em enfermagem em Portugal tem sido no sentido de mudar o seu foco de atenção dos enfermeiros para os cuidados de enfermagem de modo a de produzir mudanças mensuráveis na prática que fundamentem os cuidados que prestamos.
Quanto a logística tem sido no sentido da passagem da utilização exclusiva de recursos humanos para obtenção de fontes de financiamento, utilização de meios informáticos e de base teóricas.
Num estudo realizado por Basto e Soares (1999) em realizaram uma meta-análise dos estudos realizados em Portugal nos últimos dez anos, que tinha como finalidade contribuir para a análise da investigação em enfermagem feita por enfermeiros chegaram, entre outras, as seguintes conclusões:
persistência de estudos sobre enfermeiros;
os aspectos metodológicos são semelhantes aos referidos nos outros países estrangeiros;
poucos estudos sobre o padrão histórico;
poucos estudos sobre os resultados dos cuidados de enfermagem;~
objecto de estudo, especialmente prestação de cuidados. Estas autoras gratificam-se pelo facto de, apesar do nosso atraso tradicional, o ênfase dado aos estudos sobre prestação de cuidados serem claramente vantajosos. Basto e Soares (1999, p44)
A este mesmo propósito Lopes (2001, p31); Abel Paiva (2001) Otilia Teixeira (2001, p33) realizaram uma tentativa de revisão integradora, foram analisados 315 documentos (resumos de estudos e artigos publicados) com a intenção de perceber o estado da arte da investigação em enfermagem através da análise de trabalhos de investigação nacionais (190) e internacionais225 considerando o contexto do sujeito, da profissão e da acção (Le Boterf, 1994,1995; Rebelo, 1996). Dos 190 trabalhos analisados 52 relacionavam as práticas de enfermagem com o contexto do sujeito, 36 com o contexto da profissão e 102 com o contexto da acção, desta análise ressalta que são muito poucos os estudos que dizem respeito ao contexto da profissão (Teixeira 2001). Os estudos realizados com o contexto da profissão desenvolveram-se a volta dos seguintes temas:
Cuidar (no hospital, do idoso com doença crónica, em fim de vida, no domicílio, etc.)
Representações (da profissão da doença) percepções, opiniões, satisfação ( do enfermeiro, do utente)
Comunicação /relação
Desenvolvimento de competências (estratégias de poder do doente, do enfermeiro, etc.)
História de enfermagem (Teixeira 200, p33).
Segundo esta autora os conceitos explicitados nos trabalhos analisados eram muito amplos e ambíguos, existindo uma falta de explicitarão dos conceitos o que dificulta a sua operacionalização. Relativamente a perspectiva teórica, , verificou-se que alguns estudos se apoiavam em modelos teorias de enfermagem em autores como: Jean Watson, Patricia Benner, e Colliére, embora muitos outros se baseassem em teorias de outras áreas disciplinares como: psicologia, sociologia com destaque para as questões do género e das representações sociais e alguns não faziam menção ao referencial teórico utilizado. Pelo que é fundamental questionar as bases teóricas em que assentam estes estudos de forma a clarificar os modelos teóricos que se esperem orientem a prática profissional dos enfermeiros e para acabar com a grande distância que existe entre as intenções e a prática quotidiana.